Brave Browser: O que é e como funciona o navegador que promete proteger sua privacidade virtual?

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A (falta de) privacidade de quem navega na Internet se tornou um dos debates mais polêmicos dos últimos anos. Algumas das maiores gigantes da tecnologiapassaram pelo pente fino das autoridades em relação às suas práticas de manuseio de dados pessoais.

Tamanha foi a atenção dada ao problema que governos ao redor do mundo, inclusive no Brasil, passaram a legislar diretamente sobre a questão.

Entra em cena o navegador Brave Browser, idealizado por Brendan Eich, “pai” da linguagem JavaScript e ex-CEO da Mozilla.

Além de oferecer várias funcionalidades que impedem a exposição e transmissão de informações pessoais, o Brave também conta com um programa – o “Brave Rewards” – que recompensa com criptomoedas os usuários que se dispuserem a assistir a anúncios publicitários de parceiros.

A proposta do novo navegador é conciliar o faturamento dos criadores de conteúdo e dos publicitários, com o respeito à privacidade dos seus usuários. Tudo isso com um navegador que roda mais rápido que a concorrência.

Como o Brave já está começando a fazer ondas no mercado, reunimos aqui todas as informações que você precisa saber para decidir se vale a pena fazer a troca para o novo navegador. 

 

O que é o Brave Browser?

Lançado inicialmente em 2016, em sua versão de teste, o navegador Brave Browser procurou trazer uma proposta “conciliadora” ao debate sobre a publicidade virtual e a privacidade do público.

No centro da questão está o que Eich chama de problema Principal-agente da Internet: para se poder oferecer um serviço gratuito para os usuários (“principais”), os navegadores (“agentes”) precisam lançar mão da publicidade direcionada como forma de compor seu faturamento.

Para conseguir desenvolver ferramentas sofisticadas de direcionamento, é necessário, antes de tudo, realizar a coleta de uma quantidade maciça e diversificada de informações sobre o comportamento virtual das pessoas. Nesse esquema, os próprios anúncios são, por sua vez, usados como “cavalos de Troia”, coletando informações pessoais da sua audiência, disfarçadamente.

E aí estaria o coração do problema. Para Eich, abrir mão da privacidade e pôr em risco sua segurança é um “mau negócio” para os usuários, que não deveriam ter de fazê-lo como condição de terem uma boa experiência de navegação.

Enquanto alguns podem achar aceitável trocar sua privacidade por um serviço gratuito e de qualidade, o problema tende a piorar quando dados pessoais caem nas mãos de empresas e grupos não diretamente envolvidos na sua obtenção. A venda ou repasse de dados para terceiros ainda é uma prática comum na atual indústria da tecnologia.

Com a falta de formas alternativas de faturamento e a enorme demanda criada pelo “mercado da atenção”, não parecem restar outras alternativas de modelo de negócio que não o baseado nas receitas provenientes da publicidade.

Nesse caso, o que fazer?

À primeira vista, a proposta conciliadora do Brave parece ser simples: oferecer o máximo possível de privacidade e segurança, enquanto os anúncios são mantidos com o mínimo de intrusão e, quando possível, sob o controle direto dos usuários.   

Parece bom demais para ser verdade, não acha? Para entender como isso é possível, vejamos com mais detalhes como ele funciona.

 

Como o Brave funciona?

A abordagem do Brave Browser é a de oferecer diversas ferramentas de proteção como padrão, de forma a atender usuários com variados níveis de familiaridade com o funcionamento da Internet e da coleta de dados.

Ao contrário da maioria dos navegadores, as configurações de segurança e privacidade do Brave são automaticamente definidas tendo em vista a maior proteção possível ao usuário. Assim, é oferecida uma proteção mais robusta até mesmo para aqueles que não possuem tanta familiaridade com as melhores práticas de navegação.

Página do aplicativo Brave Browser na loja virtual Google Play, vista na tela de um smartphone, com notebook de fundo.

O Brave conta com o Brave Shields, um conjunto de funcionalidades incluídas no navegador, que protegem seus usuários das práticas mais intrusivas da web, como os anúncios, os rastreadores (“trackers”), a prática de “fingerprinting” e o armazenamento de “cookies”.

Configurações universais, como a atualização automática da encriptação para HTTPS e a proteção contra phishing, malwares e malvertising, protegem a sua navegação nos bastidores, mesmo que você não esteja ciente dessas ameaças.

O navegador também integra outras funcionalidades próprias, como um gerenciador de senhas e um preenchedor automático de formulários, mantendo as informações pessoais dos usuários no navegador e sob controle do seu proprietário.

Para os usuários com maior familiaridade, o Brave também permite um nível avançado de customização. Mesmo com as suas configurações universais, é possível alterar suas preferências de privacidade até mesmo para websites específicos.

 

Como eu posso ganhar dinheiro com o Brave?

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Há um pouco de confusão com o programa de recompensas do Brave, o chamado “Brave Rewards”. Muitos acreditam que é possível “ganhar dinheiro assistindo a anúncios”, mas não é tão simples assim.

Em vez de não ganharem nada e terem seus dados coletados sem consentimento, a proposta do Brave Rewards é recompensar os usuários pela atenção que eles devotam aos sites que visitam.

Ao visitar uma página cadastrada no programa, os usuários do Brave recebem um chamado “Basic Attention Token” (“ficha de atenção básica”, ou BAT), uma criptomoeda criada pela própria Brave Software a partir da tecnologia blockchain.

As BATs são contabilizadas localmente no navegador e enviadas, uma vez por mês, aos sites visitados, sendo o valor enviado proporcional à atenção dada pelo usuário.

Caso tenha alguma objeção à remuneração dos sites visitados, o usuário pode impedir o envio da criptomoeda àqueles que não deseja recompensar. Por outro lado, também é possível para os usuários enviar “gorjetas” aos seus criadores favoritos. 

Outra forma de acumular BATs é assistir voluntariamente aos anúncios dos parceiros da Brave. Os chamados “anúncios privados” aparecem como notificações na lateral do navegador.

Os anúncios privados são totalmente opcionais, podendo ser ignorados pelos usuários. Ao mesmo tempo, caso deseje assistir, o usuário recebe 70% do faturamento recebido pela veiculação do anúncio – os outros 30% são repartidos entre a Brave e seu parceiro veiculador.

Do ponto de vista da segurança e privacidade, o sistema permite que o navegador mostre apenas anúncios não invasivos, enquanto garante a remuneração da Brave e dos seus parceiros.

Graças a uma parceria da Brave com a negociadora de criptomoedas Uphold, os usuários também podem transferir suas BATs acumuladas para uma carteira virtual própria. Após efetivada a transferência, é possível realizar a sua conversão para outras criptomoedas, como o Bitcoin e o Etherium, e diversas moedas tradicionais, inclusive o Real brasileiro e o Dólar americano.

No Brave, anúncios privados podem ser assistidos em troca de criptomoedas, ou ignorados. Imagem: Brave Software.

 

Brave vs. Chrome

À primeira vista, o layout do Brave pode lembrar um pouco o atual líder do mercado, o Google Chrome. Isso não é nenhuma coincidência: o Brave também foi construído a partir do Chromium, um navegador de código aberto que serviu de base para o desenvolvimento do navegador da Google.

O Brave é considerado como mais ágil que o Chrome, devido ao maior número de solicitações (“requests”) bloqueados por padrão no novo concorrente.

Além de oferecer maior agilidade, as configurações padrões do Brave também o tornam uma alternativa mais segura para a navegação que o Chrome, o qual vem enfrentando diversas críticas devido a falhas de segurança e falta de privacidade para seus usuários.

 

Brave vs. Firefox

Recentemente, outro navegador vem ganhando notoriedade por priorizar a privacidade dos seus usuários.

Nos últimos anos, a Mozilla vem anunciando importantes mudanças nas funcionalidades do seu principal software, o Firefox, buscando se posicionar como uma alternativa mais segura que o seu principal concorrente, o Google Chrome.

E a iniciativa já angariou algum reconhecimento. Em 2019, o Departamento Federal Alemão para a Segurança da Informação (BSI) recomendou o Firefox como o mais seguro dentre os navegadores mais populares.

Entre as funcionalidades de segurança listadas pelas autoridades alemães, estão o suporte às práticas mais seguras de certificação e um maior controle por parte do usuário sobre as configurações de segurança.

Recentemente, a Mozilla também tornou o bloqueio nativo de rastreadores (“trackers”) uma configuração padrão do Firefox. Enquanto a funcionalidade já existia anteriormente, a maioria dos usuários não estava ciente da sua existência ou importância e, portanto, não a utilizava.

Outros serviços de segurança também foram adicionados ao catálogo do navegador, como o Firefox Monitor, que informa aos usuários se seus dados pessoais já foram divulgados em algum grande vazamento; o Firefox Lockwise, um gerenciador de senhas integrado ao navegador; e a Firefox Private Network (FPN), uma VPN desenvolvida pela própria equipe do Firefox.

Este conjunto de funcionalidades tornam ambos os navegadores escolhas vantajosas para quem busca mais segurança. A maior leveza e agilidade do Brave Browser, combinada com seu programa de recompensas por criptomoedas, é capaz de atrair uma parcela significativa dos usuários preocupados em preservar sua segurança e privacidade.

No entanto, o reconhecimento da marca e as inúmeras funcionalidades disponibilizadas aos usuários do Firefox por meio de seu repositório de extensões ainda garantem uma vantagem ao navegador da Mozilla.

 

Brave vs. AdBlock

Um dos principais componentes do Brave Shields é o seu bloqueador de anúncios integrado. Isso o coloca como um competidor não apenas de outros navegadores, mas de programas externos de bloqueio de anúncios. Estima-se que o mais famoso, o AdBlock Plus, já atende cerca de 300 milhões de usuários.

Por que escolher o Brave, então?

Bloqueadores de anúncios, de maneira geral, costumam agilizar o carregamento das páginas, justamente por bloquearem as solicitações de reprodução de anúncios enviadas, além do carregamento dos anúncios em si.   

A vantagem do Brave está justamente no fato de o seu bloqueador ser nativo ao navegador. “Nativo” significa dizer que o bloqueador é diretamente integrado à estrutura do navegador, sem necessidade de instalar extensões ou outros programas externos.

A incorporação do processo permite ao Brave concluir o carregamento mais rapidamente que outros navegadores com bloqueadores externos. O bônus de performance vem na esteira de melhorias na eficiência do bloqueador nativo. 

Segundo os desenvolvedores, após melhorias recentes, o navegador viu um desempenho 69 vezes melhor do seu bloqueador no processamento de solicitações e, consequentemente, na velocidade de carregamento das páginas.

 

Brave vs. Modo Anônimo

Talvez ainda haja aqueles que se questionam sobre o porquê de adotar um navegador inteiramente novo para proteger sua privacidade, quando podemos usar a navegação privada já existente nos nossos navegadores?

As respostas são duas. Em primeiro lugar, o acesso pelo modo anônimo de navegadores como Chrome, Firefox e Edge não é tão seguro e sigiloso quanto muitos imaginam. Como vimos até aqui, as funcionalidades de segurança e privacidade oferecidas pelo Brave são mais completas e robustas.

Em segundo lugar, o próprio Brave oferece um modo de navegação privada que deixa os outros navegadores comendo poeira. O modo anônimo do Brave utiliza a rede Tor, a qual utiliza uma série de computadores distintos (“relays”) para processar o seu acesso.

No entanto, a própria Brave deixa claro que o uso da rede Tor no modo anônimo ainda não é capaz de garantir, sozinho, a sua completa anonimidade. Caso haja algum software que monitore as suas atividades online (como no caso de alguns computadores de trabalho), ainda será possível saber que sites você acessou.   

Enquanto o Brave Browser ainda tenta se provar como uma alternativa viável no disputado mercado de navegadores, as suas ideias inovadoras e a prioridade dada à segurança e privacidade dos usuários certamente estão os ajudando a chamar atenção.

Em uma Internet em que está cada vez mais difícil manter segredos e com um público cada vez mais desconfiado das práticas da indústria de tecnologia, esse talvez seja um dos mais importantes diferenciais a ser ter daqui em diante.

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