10 passos para jovens LGBTQI+ se protegerem do cyberbullying

O caso do universitário Tyler Clementi, que se suicidou após ter sua sexualidade exposta e ridicularizada por seu colega de dormitório (que gravou e compartilhou na internet vídeos do adolescente se relacionando com outro homem), se tornou notório no debate sobre como atos de intimidação sistemática na internet vêm sendo utilizados para oprimir jovens e adultos LGBTQI+.

Embora o termo bullying exista desde os anos 80, foi nas últimas duas décadas que o debate sobre o tema (considerado crime em diversos países) ganhou destaque no Brasil, especialmente no ambiente escolar. Em 2015, o governo brasileiro sancionou a legislação anti-bullying sob o nome de Programa de Combate à Intimidação Sistemática, caracterizando como bullying toda prática repetitiva de agressão física ou psicológica com o objetivo de intimidar, humilhar ou discriminar.

Baixo rendimento escolar, estresse e depressão são sintomas comuns aos jovens vítimas de bullying

Baixo rendimento escolar, estresse e depressão são sintomas comuns aos jovens vítimas de bullying

No Brasil, 86% das crianças e adolescentes estão conectados à internet. Por isto, é de vital importância que os jovens saibam se proteger de eventuais intimidações que possam sofrer na Web, o chamado cyberbullying ou bullying virtual.

Bullying e cyberbullying

Embora o objetivo seja o mesmo (repetidamente assediar, ofender, humilhar ou ameaçar um indivíduo), a forma como o bullying e o cyberbullying afetam suas vítimas é bastante diferente, sendo a versão cyber (ou virtual) muitas vezes a mais danosa.

Os recursos tecnológicos permitem que, através das telas de computadores e celulares, os agressores (ou cyberbullies) mascarem suas próprias identidades. Ao mesmo passo, os espaços online permitem que agressões destinadas a qualquer pessoa sejam facilmente disseminadas e acessadas por muitas outras, conhecidas ou não da vítima, maximizando ainda mais o impacto da ação. A facilidade com que informações podem ser distribuídas na rede é, por si só, um argumento muito utilizado por cyberbullies na forma de ameaças envolvendo a divulgação de, por exemplo, conversas ou fotos que possam constranger seus alvos.

O fato de não conhecer a real identidade do agressor (ou até mesmo o suposto motivo pelo qual se está sendo agredido) pode tornar a experiência da vítima ainda mais perturbadora. Já nos casos em que um ato de cyberbullying é compartilhado ou testemunhado por um alto número de pessoas, os impactos psicológicos são intensificados, levando muitos jovens à depressão e, não incomumente, ao suicídio.

O impacto do cyberbullying em indivíduos LGBTQI+

Mesmo com os aparentes avanços em relação à garantia de direitos civis em diversos países do mundo, lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, homossexuais e intersexuais (LGBTQI+) ainda enfrentam obstáculos muito específicos na busca por equidade plena na sociedade em que vivemos, e continuam sendo alvos frequentes de ataques motivados por homofobia, discriminação e intolerância.

Um estudo feito em 2019 sobre a percepção do clima escolar para estudantes LGBTQI+ em escolas da América Latina reportou que 78% dos estudantes declaram ouvir comentários preconceituosos na escola regularmente. Ao mesmo tempo, apenas 8,3% das escolas que participaram do estudo afirmam ter uma política de proteção baseada na orientação sexual, identidade e/ou expressão de gênero de seus alunos.

O Brasil ainda é um dos países com maior índice de LGBTQIfobia no mundo

O Brasil ainda é um dos países com maior índice de LGBTQIfobia no mundo

A intimidação constante se faz tão ou ainda mais presente no mundo online. Conforme aponta o Comitê Gestor da Internet no Brasil, a “atração pelo mesmo sexo” é o terceiro motivo mais comum de cyberbullying reportado por alunos de idade entre 9 e 17 anos.

Estatísticas como essas reforçam o quanto jovens LGBTQI+ ainda são mais suscetíveis a sofrer ataques no mundo virtual e justificam o cuidado redobrado que eles e seus pais devem ter em relação à segurança de seus dados. Munidos de informação, esses jovens podem se defender e minimizar as chances de se tornarem vítimas de ofensores.

Como pessoas LGBTQI+ (ou seus pais) podem se proteger do cyberbullying

É muito importante proteger-se e também proteger a quem você ama de eventuais ataques digitais.

No caso de crianças e jovens, estudos reforçam a importância que o envolvimento dos pais nas definições sobre o que seus filhos acessam na internet tem na redução dos riscos e danos do cyberbullying. É fundamental que os pais se familiarizem com os recursos tecnológicos sendo utilizados e também estimulem a discussão aberta sobre os temas relacionados aos perigos do espaço virtual.

Entre as medidas que jovens e adultos LGBTQI+ podem tomar para se protegerem de cyberbullying estão o armazenamento seguro de senhas, o bloqueio do acesso a equipamentos pessoais (como smartphones), bem como a configuração apropriada das funções de segurança em perfis de redes sociais. Abaixo, detalhamos 5 dessas medidas para proteção online.

1. Reveja o que você compartilha na Web

É importante ter em conta que, qualquer dado que compartilhamos na internet, seja uma imagem, informação pessoal ou interação em algum app de comunicação (como WhatsApp) pode acabar nas mãos de possíveis ofensores.

Tendo isso em mente, é essencial não gerar insumos para ataques, como compartilhar endereços, dados de familiares, fotos ou informações íntimas.

2. Tenha cuidado redobrado com suas senhas

Caso um potencial cyberbully tenha acesso a suas senhas (de e-mail, redes sociais ou do seu celular, por exemplo), as opções de possíveis danos são inúmeras. Por isso, considere adotar as seguintes dicas:

a) Nunca compartilhe suas senhas com ninguém;

b) Não utilize a mesma senha para diferentes websites. Suas senhas para acessar, por exemplo, o Facebook e o Instagram devem ser diferentes, de modo a diminuir os danos caso uma das duas seja descoberta;

c) Utilize caracteres especiais, números, letras maiúsculas e minúsculas em suas senhas, de modo a dificultar sua descoberta por algoritmos maliciosos ou até mesmo hackers;

d) Jamais escreva suas senhas em um papel ou arquivo no computador. Preferencialmente memorize-as, ou opte por utilizar um gerenciador de senhas.

3. Proteja o acesso ao seu computador e celular

É altamente recomendado que você configure uma senha para acessar seus equipamentos conectados à internet, como desktops, notebooks e smartphones.

Além disso, certifique-se de sempre bloquear as telas caso esteja em um local com mais pessoas e precise se afastar do seu computador ou celular. São de momentos de descuido como esses que potenciais ofensores podem se beneficiar.

As redes sociais são alguns dos espaços mais comuns na prática de bullying virtual

As redes sociais são alguns dos espaços mais comuns na prática de bullying virtual

4. Revise as configurações de privacidade e segurança de seus perfis virtuais

A maioria das redes sociais e mensageiros populares possui diferentes níveis de privacidade que podem ser configurados por você. Essas funcionalidades permitem que você restrinja quem pode visualizar determinados conteúdos e quem está autorizado a interagir com você.

No Facebook, Instagram e Twitter, por exemplo, você pode restringir o acesso às suas postagens apenas para pessoas autorizadas por você (seus “amigos”, no caso do Facebook, ou “seguidores”, no Twitter e Instagram). No Instagram, ainda, você pode criar um grupo de melhores amigos para facilmente compartilhar stories de cunho pessoal somente com quem você confia e/ou conhece.

O mesmo se aplica aos aplicativos de mensagem instantânea, como o WhatsApp. Entre as configurações disponíveis está a possibilidade de ter sua foto de perfil mostrada somente para seus contatos, a opção de ocultar o sinal de confirmação de recebimento de mensagem e também de não mostrar o último horário em que você esteve conectado no app.

5. Tenha cautela ao interagir na internet com pessoas que você não conhece no mundo real

A utilização de perfis fakes para obter a confiança da vítima virtualmente é um recurso bastante utilizado na prática de cyberbullying. Por isso, é muito importante ter cuidado redobrado ao interagir online com perfis de pessoas as quais não conhecemos no “mundo real”, bem como buscar maneiras de confirmar que aqueles com quem estamos interagindo estão de fato utilizando suas identidades reais.

Os passos acima buscam prevenir e dificultar o percursos de eventuais ofensores, porém jamais estaremos completamente livres de todos os riscos enquanto conectados. Por isto, é também importante estarmos munido de informações sobre como agir caso enfrentemos alguma situação de intimidação, abuso ou assédio no mundo virtual. Os próximos cinco passos se dedicam a detalhar essas medidas.

6. Guarde evidências do acontecido

Um dos pontos que favorecem a identificação de ofensores online é o fato de que informações compartilhadas na internet podem ser rastreadas se necessário. Assim, caso você sofra qualquer ataque desse tipo, é importante que você documente o acontecido, fazendo screenshots/capturas de tela da agressão (seja em forma de imagem ou texto), da data e hora do acontecimento e, se possível, qualquer informação que esteja disponível no perfil do agressor.

7. Não responda ou revide

Reagir a uma tentativa de intimidação muitas vezes empodera o ofensor e gera uma potencial reação em cadeia. Por isso, é importante resistir ao impulso inicial de “vingar-se” e, ao invés disto, retirar-se sabiamente dessa situação seguindo os pontos abaixo.

8. Denuncie a agressão à plataforma responsável

As redes sociais populares permitem que você denuncie publicações e perfis com conteúdos impróprios e/ou que contenham tentativa de intimidação, discurso de ódio, comportamento violento, entre outros. Para fazer isso, busque as instruções de denúncia disponíveis para a plataforma em questão, ou siga as instruções contidas nos seguintes links das quatro plataformas mais populares: Instagram, Facebook, Twitter e YouTube. Na descrição de sua denúncia, procure detalhar o caso o máximo possível bem como fornecer todas as evidências que você documentou.

9. Limite a capacidade do ofensor de contatar você novamente

Caso a agressão tenha sido recebida em forma de mensagem privada em mídia social ou mensageiro instantâneo, remova o agressor de seus amigos ou seguidores e bloqueie seu perfil, de modo que ele não possa contatar você novamente com facilidade.Caso você tenha sido marcado em alguma publicação ou imagem ofensiva, certifique-se de remover a marcação antes de bloquear o ofensor. O mesmo se aplica para caso o ofensor tenha publicado comentários ofensivos em sua timeline, por exemplo: remova os comentários manualmente antes de bloqueá-lo, caso contrário, você não poderá visualizá-los depois.

10. Busque ajuda externamente

É saudável que você compartilhe e peça ajuda de amigos e familiares em situações como essa, independentemente da gravidade ou recorrência dos fatos. As pessoas de sua confiança poderão ajudar a mensurar a gravidade dos acontecimentos e, dependendo disso, podem apoiar você na adoção de medidas mais efetivas.Caso seja sabido que o agressor é um colega de escola ou universidade, a instituição em questão pode ser contatada para intervir no caso.Ainda, é importante lembrar que casos de agressão online, como calúnia, difamação, ameaça e falsa identidade, podem constituir crimes cibernéticos. Nesses casos, a polícia e/ou autoridades locais devem ser contatadas.

Os números alarmantes sobre cyberbullying no Brasil não nos deixam mentir: esse é um problema grave, constante e que afeta ainda mais pessoas que são alvos frequentes de intolerância e preconceito no mundo real, como os membros da comunidade LGBTQI+. No entanto, com conhecimento adequado sobre como tirar vantagem das ferramentas de privacidade que os recursos tecnológicos oferecem, jovens e adultos podem usufruir dos benefícios de navegar com muito mais segurança na internet. 

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